top of page

OUSADIA


Viver é colecionar notícias - Nem sempre as que esperamos – afinal, nós lidamos muito bem quando são boas novas e, sofremos horrores quando não são.

Aprender a lidar com as adversidades nem sempre é fácil, mesmo porque, nos tempos em que vivemos elas parecem se multiplicar mais que coelhos e chegam na velocidade do som.

Outra coisa que costuma nos pegar de jeito são os conflitos. Eu pessoalmente os detesto, pago para não ter as famosas dr’s... mas é impossível negar que existem! A única certeza nesse caso é que quando o tempo fecha e a confusão se instala, o prejuízo para os envolvidos é certo.

Dia desses eu estava no Metrô quando um rapaz entrou, encontrou um lugar vago e se sentou para continuar lendo o livro que trazia nas mãos. Na estação seguinte, o vagão encheu, os lugares reservados foram ocupados e algumas pessoas seguiam em pé quando uma senhora, acompanhada de um menino de uns dez anos entrou esbaforida pouco antes da porta automática fechar. Ela se ajeitou como deu e acabou parando em frente ao rapaz do livro. Sem menos ou mais, falou aos berros:

- Saia daí agora que eu quero me sentar. Você não se toca?

O rapaz lendo estava lendo continuou. Impassível. A senhora bem disposta e jovem demais para qualquer privilégio, desandou a ataca-lo com palavrões e impropérios tantos, que mesmo quem não quisesse ou pudesse, escutava. Ele não esbravejou, não respondeu, não esboçou nenhuma reação. Tudo o que sentiu, ousou guardar para si.

As pessoas que presenciavam a cena se mostraram divididas: algumas indignadas com a atitude da mulher exigindo o que não lhe cabia e de forma violenta, outras temendo pela mulher que atacava alguém bem mais forte do que ela, outros lamentando a fraqueza do rapaz por não revidar e confrontar a mulher e outros que propagavam as façanhas que teriam feito se fosse com eles.

No meio disso tudo, o vagão deu uma esvaziada e o rapaz se levantou para ocupar outro banco um pouco mais a frente. Foi quando uma explosão de aplausos tomou conta do ambiente abafando a gritaria da mulher.

A viagem seguiu... o rapaz, que não havia feito nada de errado desceu, levando consigo sua dignidade.

O que fica? A certeza de que sempre há outro jeito de viver onde não é preciso embarcar na violência alheia, seja ela física ou verbal. E como diria o filósofo, “Você pode sair ferido, mas essa é a única maneira de viver a vida completamente.


OUSAR é perder o equilíbrio momentaneamente.

Não ousar é perder-se.

bottom of page