top of page

REPARAÇÃO

Dia desses fui conhecer a Japan House, em plena Avenida Paulista. Ali funciona um ponto de difusão da cultura japonesa que só existe em mais dois lugares fora do Japão : Londres e Los Angeles.


Um lugar amplo, com exposições (às vezes, interativas), lojas, um café ladeado por uma imensa estante de livros de todos os tipos, que devem ser folheados , lidos, mas jamais vendidos, e também um jardim para contemplação.


Saboreando a citada estante, encontrei um exemplar que falava sobre WABI-SABI– uma visão de mundo japonesa (como não poderia deixar de ser), que muitas vezes é descrita como a do BELO que é “imperfeito, impermanente e incompleto”, nascida no Japão do século XV, com uma pegada de zen-budismo que também pode ser encontrada em diversas artes como o Ikebana (tipo de arranjo floral), o jardim Zen, o Bonsai, a cerâmica e a cerimônia do chá.


O Wabi-Sabi tem uma estética que valoriza o rústico, o imperfeito, o monocromático e o aspecto natural. Despojamento seria a palavra-chave. O que está em jogo é o processo e não o produto final. Existe uma ligação grande com o conceito de ‘slow living’ – que busca desacelerar e se concentrar no que geralmente é deixado de lado – coisas simples que conservam as marcas do tempo e, à sua maneira, contam uma história.


Ao fazer um reparo em objetos quebrados, os japoneses enaltecem a área danificada preenchendo as fissuras com ouro – existe a crença de que, quando algo sofre um dano e tem uma história, torna-se mais bonito - essa arte da reparação com pó de ouro, é conhecida como Kintsugui–e o resultado final, não são apenas peças reparadas, mas peças que se tornam ainda mais fortes do que originalmente eram.

Assim somos nós.

Nos tornamos mais fortes e mais belos

com o passar dos anos e falo aqui de uma beleza perene,

não essa que nos é vendida,

descartável e fútil.

O quelamento é que envelhecer é para muitos algo a ser escondido e esquecido. Nossa realidade tem nos mostrado que envelhecer é sinônimo de protagonismo de uma história que ninguém mais quer ouvir, simplesmente por que já passou; velhos, idosos, melhor idade ou qualquer adjetivo que mais agrade – são aqueles que foram deixados de lado porque outros decidiram que o tempo deles acabou, não tem mais voz, que dirá, vez. O dia-a-dia limita-se, quando muito, a transitar entre móveis estranhos e lembranças que já não reconhecem mais, obrigados que foram a viver em silêncio um suspeito presente e um futuro que ninguém deseja pra si mesmo.


Que dessa arte japonesa, que dentre outros ensinamentos, nos mostra a importância de valorizar a história e as imperfeições advindas com o passar do tempo e, por isso, carregam a beleza inerente, possamos despertar para a necessidade de prover a acolhida, o afeto, o respeito, a inclusão e o amor do qual o velho é merecedor.

bottom of page