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CONTEMPLAÇÃO


As flores compradas na semana passada ainda não haviam desabrochado quando saí, mas ao voltar de viagem hoje, pude apreciá-las reluzentes em seu amarelo contrastando com um severo marrom escuro do tampo da mesa. Um sentimento muito prazeroso de acolhida invadiu meu peito.

Pequenos milagres como esse nos cercam todos os instantes, mas pré-ocupados que estamos, deixamos que a pressa nos desvie a atenção e nos prive de uma gama de privilégios como esse.

Vivemos em um mundo árido, barulhento, violento e mesmo assim – seguimos - muitas vezes sem sequer olhar nos olhos do outro, sem trocar um abraço ou receber um carinho. Chegamos ao ponto de viver nosso presente através do celular, preocupados que estamos em postar nas redes sociais, aquilo que deveríamos viver. Alguém duvida? Pois bem, me diz por quantos segundos hoje você olhou para o céu? Me diz se sentiu o cheiro da comida que acabou de ser colocada no prato? Me diz se agradeceu por mais um dia de vida que recebeu hoje?

Nem responda - mas não seria essa a deixa para parar e refletir aonde é que foi parar nossa capacidade de apreciar o que nos faz bem?

É fato que a tecnologia nos trouxe muitas benesses, mas também é inegável que na esteira vieram outras tantas exigências que acabam por formatar nosso cérebro nesse ritmo alucinante.

Em apenas um toque sabemos o que acontece do outro lado do oceano, resgatamos amizades perdidas pelo tempo e distância, fazemos mil e duas descobertas e assim segue o baile. Mas existe o outro lado da história que também ressignificou muita coisa – amigos passaram a ser virtuais e quanto mais melhor, mesmo que eu jamais tenha tido o prazer de me sentar e tomar um café, contar o que vi ou deixei de ver a caminho do encontro...ligar para matar a saudade se transformou em uma ou mais mensagens via aplicativo e já não se escuta mais a voz, a risada, o choro...

Deixo claro aqui que não faço uma crítica à tecnologia e suas facilidades, não poderia, não saberia. Minha constatação vai de encontro ao fato de que muitas vezes tropeçamos diante de tanta comodidade que nos perdemos com a premissa de eternizar momentos ou de ganhar tempo, e, ficamos sem tempo. Perdemos o hábito de contemplar, de perceber, de estarmos inteiros em cada momento.

Que façamos sim uso da tecnologia, mas que tenhamos o poder de parar, pensar, ver, viver e apreciar – a vida que temos!

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