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O Tempo acelera...

Pedi a um "Jovem" amigo que escrevesse um texto sobre sua visão do envelhecimento. Anselmo, mais conhecido como Lupo, se inspirou....vale a leitura! O Clube da Experiência agradece....e o Tempo Acelera...

Engraçado... Quando eu era criança, tudo parecia tão longe, velho, grande, complicado...

Eis que eu cresci e o mundo começou a encolher. O armário, eu mal alcançava. Vieram as contas, os amores, as decepções, mais contas, a viagem cansativa e a vontade de voltar pra casa. O tempo encolheu.

Mas o assunto é outro. Confesso que nunca pensei na minha saúde. Eu me via um ser eterno.

Isso mudou. Foi lá no final da adolescência que eu descobri que não poderia ter filhos. Um sonho que jamais seria realizado. Casei. Fiz tratamento. Não deu certo. Separamos. Puft! Olha eu lá, com 30 anos. Ainda, eterno.

Trabalho? Eu adoro o meu trabalho! Não dá dinheiro não, sabe? Mas é divertido e sou muito bom no que eu faço. As pessoas me admiram. Decidi que seguiria este caminho profissional faz tempo, e ainda hoje vejo isso como um indício imaturo de maturidade daquele jovem eu de anos atrás. Um conselho que dou: Trabalhe naquilo que gosta! É a maneira mais inteligente pra nunca ter que trabalhar.

Preciso confessar que sou fumante. Fumei demais! Mas nunca bebi, acredita? Assim... Já tive meus porres, quem nunca? Mas depois dos 25 anos eu virei aquele chato que recusa cerveja no churrasco da família. "Vou dirigir..." é a desculpa mais comum. Balela! Eu só não quero beber. No fundo, eu só não quero me perder de mim. Sou isso aqui, por pior que seja é o melhor que tenho.

Disse que sou chato, e sou mesmo. A maior prova é o grupo da família no facebook... Sou daqueles que dá lição de moral quando percebo algum preconceito. Já dei lição de moral até na minha mãe no facebook. Por conta disso, fico com a impressão que algumas pessoas escolhem as palavras quando estou por perto. Não acho isso um defeito, mas me incomoda o fato de algumas pessoas não serem elas mesmas na minha presença. Mas quem é? São raros os momentos em que somos nós mesmos.

Mas deixa eu contar uma coisa!

Eu casei de novo há 6 anos. Essa pessoa me convenceu que valia a pena tentar novamente outro tratamento para ter um filho. Eu não queria, já tinha desistido... Sabia o sofrimento e decepção da derrota. E não é que deu certo? Minha filhinha vai completar 2 anos neste mês! E então, aquele jovem highlander se percebeu mortal.

Este fato foi o divisor de águas na minha vida. Um evento, tão simples para tantas pessoas, fez com que eu mudasse completamente a visão que eu tinha deste ser tão diferente e estranho que sou eu.

Não vou aqui gastar palavras pra tentar descrever o amor que sinto pela Giulia, seria impossível. Só quero dizer que comecei a imaginar o futuro de forma diferente, não tendo como base a minha idade, mas a dela.

Como será o primeiro dia de aula? Como será a festa de debutante? E a formatura? Será que ela vai casar na igreja? Será que ela vai gostar de meninos ou de meninas? Ah Deus, tomara que ela seja honesta e sempre devolva o troco errado dado a mais na padaria!

Mas eu eu? Onde estaria? Eu me despedindo dela na escola. Eu dançando a valsa com ela. Eu chorando, emocionado, ao vê-la recebendo o diploma. Eu, brincando que estou bravo ao ser apresentado para o seu namorado. Ou namorada... E eu, ouvindo ela comentar que devolveu o troco errado na padaria com a maior naturalidade das pessoas que fazem o que fazem porque é certo. Eu, bobo, feliz.

E eu, na minha imaginação, vivo. Barba branca, poucos cabelos talvez, e algumas rugas. Estou eu, lá, numa versão melhorada pela experiência. Só que o corpo não é mais o mesmo. Hoje, com 42 anos, estou começando a perceber que minha existência neste mundo já passou da metade. Quando minha filha tiver a minha idade, eu estarei com 82 anos... Talvez, eu tenha me tornado apenas uma lembrança.

Espero, ao menos, nunca me tornar um peso.

Mas como é estar com 82 anos? Se hoje, com 42, eu já sinto um peso diferente, como será daqui a 10 anos? 20? 30 anos?

O Natal demorava tanto pra chegar quando eu era criança! Hoje eu pisco o olho no carnaval e as luzes já estão piscando nas árvores. Como eu disse, tudo diminuiu, inclusive - e principalmente - o tempo.

O fato é que me resta muito pouco tempo para aproveitar a vida, mas são infinitas as possibilidades de uso deste tempo. Posso ficar preso num mundo só meu, lamuriando as contas, maldizendo os políticos, brigando com as pessoas que amo por uma questão de ego. Ou posso, simplesmente, deixar rolar.

Amar, beijar, sentir, criar, gozar, dançar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.

Daqui a 10, 20, 30 anos, se o "Acaso" permitir, eu estarei feliz e fazendo o que gosto: curtindo a minha esposa e filha, escrevendo textos longos que poucos leem sobre absolutamente tudo e reinventando idéias e ideais. Estarei - olha só - fazendo exatamente o que faço hoje.

Decepcionante?

Sabe que não!


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